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terça-feira, 19 de maio de 2015

APA - O prazer do compartilhamento




O teatro que não está em nada, mas que se serve de todas as linguagens - gestos,
sons, palavras, fogo, gritos - encontra-se exatamente no ponto em que o espírito precisa
de uma linguagem para produzir suas manifestações.
E a fixação do teatro numa linguagem - palavras escritas, música, luzes, sons -
indica sua perdição a curto prazo, sendo que a escolha de uma determinada linguagem
demonstra o gosto que se tem pelas facilidades dessa linguagem; e o ressecamento da
linguagem acompanha sua limitação.
Para o teatro assim como para a cultura, a questão continua sendo nomear e
dirigir sombras; e o teatro, que não se fixa na linguagem e nas formas, com isso destrói
as falsas sombras, mas prepara o caminho para um outro nascimento de sombras a cuja
volta agrega-se o verdadeiro espetáculo da vida.
Romper a linguagem para tocar na vida é fazer ou refazer o teatro; e o
importante é não acreditar que esse ato deva permanecer sagrado, isto é, reservado. O
importante é crer que não é qualquer pessoa que pode fazê-lo, e que para isso é preciso
uma preparação.
Isto leva a rejeitar as limitações habituais do homem e os poderes do homem e a
tornar infinitas as fronteiras do que chamamos realidade.
É preciso acreditar num sentido da vida renovado pelo teatro, onde o homem
impavidamente torna-se o senhor daquilo que ainda não é, e o faz nascer. E tudo o que
não nasceu pode vir a nascer, contanto que não nos contentemos em permanecer simples
órgãos de registro.





Stephane Brodt (Amok Teatro) e Carlos Simioni (Lume Teatro)

APA's








O teatro só poderá voltar a ser ele mesmo, isto é, voltar a constituir um meio de
ilusão verdadeira, se fornecer ao espectador verdadeiros precipitados de sonhos, em que
seu gosto pelo crime, suas obsessões eróticas, sua selvageria, suas quimeras, seu sentido
utópico da vida e das coisas, seu canibalismo mesmo se expandam, num plano não
suposto e ilusório, mas interior.
Em outras palavras, o teatro deve procurar, por todos os meios, recolocar em
questão não apenas todos os aspectos do mundo objetivo e descritivo externo, mas
também do mundo interno, ou seja, do homem, considerado metafisicamente. Só assim,
acreditamos, poderemos voltar a falar, no teatro, dos direitos da imaginação. 
Nem o Humor nem a Poesia nem a Imaginação significam qualquer coisa se, por uma
destruição anárquica, produtora de uma prodigiosa profusão de formas que serão todo o
espetáculo, não conseguem questionar organicamente o homem, suas idéias sobre a
realidade e seu lugar poético na realidade.









Comemoração pela vida de Stephane! Parabéns!



Textos: Antonin Artaud (O Teatro e seu Duplo)


Fotos desta postagem: Marta Viana


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